Premio Ibermuseus de Educação
Objetivo geral: Envolver a comunidade para desenvolvimento dum Plano de Revitalização do Museu do Casal de Monte Redondo, a partir de ações educativas.
Objetivos específicos: Desenvolver estratégias junto a outros atores para gestão compartilhada do Museu; Planejar e executar uma Exposição, com curadoria compartilhada; Realizar ações de formação e capacitação junto ao acervo museológico, sobre preservação e conservação, pesquisa e documentação museológica; Realizar oficinas sobre Educação Ambiental e Patrimonial, Sustentabilidade e Acessibilidade; Produzir interfaces entre as ações educativas do Museu com as ações Departamento em Museologia da Universidade Lusófona.
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Justificativa
O Museu do Casal de Monte Redondo é uma referência para a Museologia Social em Portugal e empreende diversos projetos que associam Museologia e Desenvolvimento Social desde a década de 1980. O projeto proposto atende aos critérios da convocatória ao vincular a função educativa do museu à sua função social. O museu localiza-se em uma comunidade no interior de Portugal, com a patente necessidade de articulação entre grupos tradicionais locais e novos migrantes, sobretudo trabalhadores provenientes do leste europeu e reformados dos países do norte. Espera-se, com o projeto apresentado, impulsionar a ação educativa do museu em um contexto que está fora dos grandes eixos de financiamento de projetos na Ibero- América: museus comunitários em pequenas localidades. De acordo com a museóloga Maria Célia Teixeira Santos (2001), “a educação significa reflexão constante, pensamento crítico, criativo e ação transformadora do sujeito e do mundo; atividade social e cultural, histórico-socialmente condicionada”. A educação vai muito além do espaço escolar. O artº. 42 da Lei Quadro dos Museus Portugueses, estabelece que “o museu promove a função educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente, a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos”. No mesmo sentido, a Política Nacional de Educação Museal do Brasil (PNEM 2017), define em seus princípios, que: “a educação museal compreende um processo de múltiplas dimensões de ordem teórica, prática e de planeamento, em permanente diálogo com o museu e a sociedade”. O projeto apresentado busca o protagonismo das comunidades para o seu desenvolvimento social, o que se articula com as definições contemporâneas de educação museal ao “assegurar, a partir do conceito de Patrimônio Integral, que os museus sejam espaços de educação, de promoção da cidadania, e colaborem para o desenvolvimento regional e local, de forma integrada com os seus diversos setores” (PNEM 2017). O Museu do Casal de Monte Redondo possui uma administração de natureza participativa, vinculada à Associação de Defesa do Património Cultural de Monte Redondo. Com as dificuldades enfrentadas pelo museu a partir do início dos anos 2000, procurou-se uma forma de angariar fundos para a manutenção sustentável de suas ações culturais e educativas. Desde 2012, o museu promove, com diversos apoios institucionais e autárquicos, o Festival “Museum Festum”, evento cultural aberto à experimentação artística e voltado para a indagação sobre novas práticas no âmbito da cultura e da própria educação. O evento tem conseguido aproximar a comunidade ao museu, principalmente as gerações mais jovens, com a realização de quermesses e a participação de artistas locais, com uma vertente de educação museal. Faz-se necessário, assim, no momento atual, a ampliação das ações do museu, com a construção coletiva de um amplo programa educativo que permita a sua revitalização e a efetiva apropriação pelas comunidades locais.
O Museu do Casal de Monte Redondo, fundado em 1981, está localizado na Freguesia de Monte Redondo, na região centro de Portugal. O museu é administrado pela Associação de Defesa do Património Cultural de Monte Redondo e está instalado em edifício próprio, com espaço expositivo, biblioteca e reserva técnica. O seu entorno é um espaço natural que permite a expansão e o desenvolvimento de suas atividades. O acervo do museu é maioritariamente composto por material etnográfico doado pela população local. Destacam-se as coleções relacionadas a ofícios, como agricultura, marcenaria, tecelagem, resinagem, sapataria e afazeres domésticos. Além de outros objetos que estabelecem conexões diretas entre a cultura material e as referências imateriais da população local, como formas de expressão, festas, religiosidades e modos de fazer. O museu passou, em 2017, por um processo de reorganização empreendido pela comunidade local e pelos alunos do Programa de Museologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa (ULHT), cujo Departamento de Museologia teve em 2017 aprovada a Cátedra UNESCO – Educação, Cidadania e Diversidade Cultural. Após a realização de reuniões entre os envolvidos, decidiu-se que o processo de revitalização do museu fosse realizado a partir de um amplo projeto educativo. Espera-se articular, em quatro fases, ações educativas colaborativas entre o museu e as diversas comunidades de Monte Redondo. A primeira fase compreenderá a sensibilização local, por meio de reuniões com os coletivos identificados, envolvendo o museu e a ULHT. Serão realizadas, em cada coletivo, sessões de apresentação do museu e das suas ações, assim como a apresentação das atividades dos grupos, de forma a conectar as ações e gerar indicativos para as demais fases do projeto. Serão também definidos os instrumentos de avaliação que serão aplicados em todas as fases do projeto. Na segunda fase, será realizada uma exposição no museu com curadoria colaborativa, a partir dos conteúdos da fase anterior. Na terceira fase, serão desenvolvidas oficinas de formação sobre as várias áreas do museu, como estratégia para capacitar a comunidade para a apropriação e desenvolvimento de suas atividades. A última fase do projeto refere-se à avaliação e proposições, e será desenvolvida de forma participativa e com o envolvimento de todos os integrantes do projeto. Os resultados serão apresentados em reuniões para análise e crítica. Serão também levantadas as possibilidades de ações futuras, com a preparação de uma agenda propositiva para o museu. Será realizada uma publicação com o relato do projeto e reflexões sobre como as ações educativas podem sustentar processos de revitalização. Nesse sentido, acreditamos que conhecer e aprofundar as discussões sobre a relação entre memória e comunidade, com foco em ações educativas e culturais a partir dos processos museológicos, pode fornecer subsídios para pensar políticas e outras ações que estimulem e orientem outros museus.
Resultados esperados
Fase 1: Instrumentos metodológicos para avaliação do projeto. Realização de ao menos 8 rodas de conversa nos coletivos previamente identificados ou em grupos identificados no decorrer do projeto. Registo audiovisual e fotográfico.
Fase 2: Realização de exposição no MCMR referente ao processo desenvolvido na primeira fase. Publicação de catálogo da exposição.
Fase 3: Realização das 7 oficinas coordenadas pela ULHT e Museu. Realização de ao menos 3 oficinas coordenadas pelos coletivos.
Fase 4: Consolidação da avaliação do projeto. Elaboração do Plano de Revitalização do Museu. Realização de publicação digital sobre todo o processo de trabalho.
Plano de trabalho
O projeto será desenvolvido em quatro fases: O museu vai à comunidade (sensibilização); A comunidade vem ao museu (exposição); Encontros de partilha (oficinas); e Avaliação/proposições. Cada fase compreenderá o desenvolvimento das ações e fases articuladas:
1ª Fase: O museu vai à comunidade (Sensibilização) Esta fase visa estabelecer o primeiro contato e articulação com os grupos que integrarão o projeto. Ação 1 – Planeamento Planeamento e articulação entre o Museu do Casal de Monte Redondo, ULHT e comunidades. Definição: cronograma, roteiro, divulgação e instrumentos de avaliação para cada etapa do projeto. De 4 a 9/2/2019, no MCMR. Resp: Articuladores Ação 2 – Rodas de Conversa Rodas de Conversa com os coletivos em seus espaços de convivência. Cada grupo deverá se apresentar, compartilhar suas memórias e expectativas sobre o Museu e Projeto e coleta de material para Fase 2 (fotografias, objetos e entrevistas) Bombeiros Voluntários de Leiria Centro Escolar de Monte Redondo Casa da Criança da Fundação Bissaya Barreto Colégio Dr. Luís Pereira da Costa Colectivo Feminino de Ofícios Ancestrais Escoteiros Agrupamento 1054 Lar e Centro de Dia Nossa Senhora da Piedade Filarmónica Nossa Senhora da Piedade GATAS – Grupo Amador de Teatro Associativismo Local De 11 a 23/2/2019, nos coletivos. Resp: Articuladores
2ª Fase: A comunidade vem ao museu (Exposição) Realizar exposição, com curadoria compartilhada e utilização de recursos diversos. Ação 1 – Projeto Expográfico Reuniões para elaboração do Projeto Expográfico. De 25/02 a 16/03/2019, na ULHT e no MCMR Ação 2 – Execução Montagem, desmontagem e avaliação da exposição. De 18/3 a 11/5/2019, no MCMR Resp: Articuladores
3ª Fase: Encontros de Partilha Formação e capacitação sobre museu, memória, cidadania e diversidade cultural, e oficinas referentes às diversas áreas do museu e saberes da comunidade. De 1 a 30/04/2019, no MCMR Resp: Integrantes 1. Memória, Museu, Cidadania e Diversidade – Resp: ULHT 2. Educação Museal, Ação Educativa-Cultural – Resp: ULHT 3. Gestão e Documentação Museológica – Resp: ULHT 4. Conservação Preventiva – Resp: ULHT 5. Preservação ambiental e prevenção contra incêndios – Resp: Bombeiros 6. Tratamento de acervos e coleções pessoais – Resp: ULHT 7. Acessibilidade e Urbanização – Resp: Comunidade e ULHT 8. Artes – Resp: MCMR e ULHT 9. Ervas e plantas Medicinais – Resp: Comunidade Ofícios – Resp: a definir
4ª Fase: Avaliação e proposições Discussão e análise dos resultados. Desenvolvimento de estratégias para gestão compartilhada e elaboração do Plano de Revitalização do Museu. Ação 1 – Avaliação Apresentação das avaliações realizadas durante o processo para análise participativa final. De 6 a 11/5/2019, no MCMR Resp: Integrantes Ação 2 – Elaboração do Plano de Revitalização do Museu Elaboração participativa do Plano de Revitalização do Museu e apresentação final. De 20/5 a 12/7/2019, no MCMR Resp: Integrantes
Critérios Pertinência e coerência:
A proposta atende aos objetivos do Prêmio: “potencializar a capacidade educativa dos museus”. Alinha- se, também, com as diretrizes da Declaração de Salvador(2007), ao “reafirmar e amplificar a capacidade educacional dos museus e do patrimônio cultural como estratégias de transformação da realidade social”. Além da Recomendação da UNESCO(2015), que destaca a educação como uma das funções primárias dos museus e propõe uma definição alargada sobre os programas educacionais, que “contribuem primariamente para educar diversos públicos acerca dos tópicos de suas coleções e sobre a vida cívica. Os museus podem ainda promover conhecimento e experiências que contribuem à compreensão de temas sociais relacionados”. Impacto sociocultural: O projeto abordará perspetivas de educação patrimonial e comunitária, discutirá e potencializará fundamentos teóricos e práticos para a apropriação efetiva do museu, agente transformador e dinamizador da memória social local. O projeto estimulará a participação de diversos atores da localidade e promoverá a cidadania e os direitos humanos. Perspetivas educativas do museu inclusivo: Articulam-se políticas locais e processos museológicos que envolvam coletivos, escolas e associações realizando oficinas de caráter cidadão promotoras de inclusão e acessibilidades. Caráter participativo: Evidencia-se pela articulação entre vários atores em sua conceção, execução e avaliação. Serão envolvidos agentes de comunidades locais em interação com agentes externos (ULHT e parceiros). Busca-se, assim, articular diversos conhecimentos, práticas e saberes, sejam eles técnicos, académicos ou especializados. Sustentabilidade: O Museu possui capacidade de gestão, garantida por um responsável no local. A ULHT apoiará as ações de caráter logístico e de formação, com a participação de professores, alunos e profissionais especialistas. As ações enfatizam não somente a sustentabilidade da proponente, mas também o desenvolvimento sustentável em todos os seus eixos – económico, ambiental, social. Existência de indicadores: Serão elaborados instrumentos de avaliação para aplicação desde a primeira fase do projeto. Eles servirão de base para a construção de uma agenda propositiva e plano de revitalização do museu, processo esse que será relatado em uma publicação. Viabilidade: Articulam-se recursos humanos locais e externos, através de parceria com o Departamento de Museologia/ULHT. O plano de trabalho foi elaborado partilhando as responsabilidades entre as duas instituições e o pessoal contratado. A experiência acumulada pelo Museu e pelo Departamento de Museologia permitirá a plena execução do projeto. Inovação: O projeto inova ao promover a revitalização do Museu através de ações educativas participativas e integradoras. A metodologia adotada busca fortalecer a relação entre o museu e as comunidades locais. Ademais, não se trata do desenvolvimento de ações educativas isoladas, mas integradas a todos os processos.
Equipe
João Pereira Moital Coordenador do Projeto “Renova Museu”
Claudia Pereira Pola, Cristina Lara Corrêa, Diana Bogado, Dulcinia Évora Figueirinha, Fátima Pereira Moital, João Wagner Daruich, José Ventura, Judite Primo, Juliana Campuzano, Katia Regina Felipini Neves, Mafalda da Silva Garcia, Marcelo Lages Murta, Mário Moutinho, Maristela dos Santos Simão, Moana Soto, Nathália Pamio, Pedro Pereira Leite